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Transposição peca na revitalização do rio São Francisco, apontam especialistas

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Obras do eixo leste da transposição do rio São Francisco

A chegada das águas do rio São Francisco ao semiárido paraibano, nesta sexta-feira (10), marca a conclusão do eixo leste da transposição e contará com a presença do presidente Michel Temer. Mas o final da tão esperada obra no semiárido nordestino não encerra as polêmicas geradas pelo projeto, que custou R$ 10 bilhões.

Segundo especialistas, ficaram marcas na região ao serem deixadas de lado a revitalização do rio –que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu ao bancar a obra– e a negociação com comunidades afetadas. “Nós queremos revitalizar, recuperar as margens, as matas ciliares, fazer saneamento básico nas cidades para que não joguem dejetos no São Francisco, e começamos fazendo isso”, disse Lula, em 2009, durante o programa “Café com o Presidente”, em outubro de 2009.

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Maquetes Usinas de Energia – Modelos e dicas de como fazer

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 Para ajudar  alunos  a construir  maquetes de Usinas de Energia separamos algumas dicas muito especiais que possam auxiliar as equipes na construção das maquetes.escolares.
Um dos trabalhos escolares que toda criança ou adolescente faz na época dos estudos é a maquete.

Pelo fim dos lixões

Programa Sou Resíduo Zero quer engajar empresas e sociedade a acabar com a geração de lixo. Ao reduzir o consumo de embalagens e dar destino correto aos resíduos, será possível dar adeus aos lixões do país

Estima-se que o brasileiro produza por dia um quilo de resíduos sólidos. Esta seria a quantidade de embalagens, restos de alimentos e outros tipos de materiais que o cidadão joga no lixo diariamente. Em 2013, este volume todo somado chegou a 76 milhões de toneladas.

Apesar da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) já ter entrado em vigor e ter estabelecido agosto de 2014 como prazo para que resíduos sólidos e rejeitos tivessem destinação final ambientalmente adequada, em muitas cidades do Brasil os lixões ainda estão funcionando livremente.

Com o objetivo de engajar pessoas, comunidades e empresas a reduzir a geração de resíduos e estimular ao máximo o reaproveitamento, reciclagem e compostagem, foi lançado este mês, em São Paulo, o Programa Sou Resíduo Zero, idealizado pela consultoria Eccaplan.

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Dia Mundial da Reciclagem, conheça os benefícios

11148620_654405277994402_8930617268485523925_nNeste Dia Mundial da Reciclagem faça a sua parte: separe o lixo de sua casa e valorize o trabalho do catador de materiais recicláveis!

A reciclagem é um importante componente da gestão de resíduos sólidos, pois ajuda a reduzir o consumo de matérias-primas, água e energia. Além disso, diminui os impactos ambientais provocados pela disposição inadequada dos resíduos e proporciona a abertura de novos mercados, gera trabalho, emprego e renda, conduzindo à inclusão social.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) traz diretrizes sobre o tratamento e o destino dos materiais descartados diariamente e prevê a “responsabilidade compartilhada”, que envolve sociedade, empresas, prefeituras e governos municipais, estaduais e federais na gestão do resíduo. Todos podem colaborar com o meio ambiente!

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Brasileira cria app que poupa água e ganha bolsa em universidade na Nasa

Mineira de 23 anos criou aplicativo para tornar plantações ‘inteligentes’.
Tecnologia reduz em até 60% consumo de água na irrigação.

Mariana Vasconcelos, de 23 anos, criadora do Agrosmart (Foto: Divulgação/Agrosmart)Mariana Vasconcelos, de 23 anos, criadora do Agrosmart (Foto: Divulgação/Agrosmart)

Um aplicativo que conecta o agricultor à sua plantação, reduzindo o consumo de água na irrigação, rendeu a uma brasileira de 23 anos uma bolsa para estudar em uma universidade na Califórnia ligada à Nasa (a agência espacial americana).

A administradora Mariana Vasconcelos, que mora em Itajubá (MG), foi selecionada entre mais de 500 pessoas para representar o Brasil como bolsista na Singularity University. A instituição, que funciona em um centro de pesquisa da Nasa no Vale do Silício, na Califórnia, selecionou empreendedores de 19 países para seu programa de imersão “Call to Innovation”.

Criada na fazenda do pai, Mariana desenvolveu em 2014 o Agrosmart, um aplicativo que promete tornar as plantações “mais inteligentes”.

A tecnologia utiliza sensores espalhados pelo campo, que avaliam a umidade do solo e a presença de pragas, entre outros parâmetros. Esses dados são interpretados pelo aplicativo, que indica ao agricultor os intervalos de irrigação e outras variáveis em tempo real.

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A ameaça sobre os rios da Amazônia, em relatório da Rede WWF

Construção de barragens e hidrelétricas, expansão da agropecuária e outras atividades exploratórias colocam em risco a conectividade dos ecossistemas aquáticos da Bacia Amazônica. Sem esta ligação, há grande perda da biodiversidade e série ameaça à economia das populações locais. O alerta vem de relatório elaborado pela Iniciativa Amazônia Viva, da Rede WWF

Além da beleza natural ofuscante, a Amazônia é detentora de números grandiosos. A vegetação da maior floresta tropical do mundo, com aproximadamente 6,5 milhões de km², cobre parte do território de nove países da América do Sul. Mas não é somente mantendo suas árvores em pé que será possível preservar o equilíbrio deste bioma vital para o planeta. É necessário cuidar de suas águas.

A região amazônica possui o maior sistema fluvial do planeta. São mais de 100 mil quilômetros de rios, riachos, igapós, várzeas e outros tipos de áreas alagáveis. Só a foz do Rio Amazonas é responsável por desaguar cerca de 6.700 km3 de água doce por ano no Oceano Atlântico, o que representa quase 20% de todo fluxo global de água fluvial de superfície.

Todavia, muita atenção foi dada ao desmatamento na Amazônia nos últimos anos – algo fundamental e importantíssimo -, mas a proteção de seus rios foi negligenciada. Com o intuito de alertar sobre esta questão, a Iniciativa Amazônia Viva, da organização não-governamental WWF-Internacional, em parceria com suas instituições sulamericanas, lançou hoje (13/04) o relatório “O Estado da Amazônia: Conectividade e Saúde dos Ecossistemas de Água Doce”*. O estudo foi divulgado em evento paralelo do VII Fórum Mundial de Água, realizado pelo Conselho Mundial da Água*, que acontece em Gyeongju, na Coréia do Sul (de 12 a 17/4).

O relatório mostra como a ligação hidrológica da Bacia Amazônia é imprescendível para a sobrevivência de inúmeras espécies. Muitos peixes dependem das migrações laterais ou longitudinais em algumas partes de seus ciclos de vida. É o caso do bagre, por exemplo. A espécie viaja milhares de quilômetros desde o estuário da Amazônia até as cabeceiras dos rios de água branca (barrenta) e deixa suas ovas nos contrafortes dos Andes. Ou seja, o bagre só consegue se reproduzir graças aos chamados corredores de migração.

A conexão entre a água doce da Amazônia também regula o fluxo de material orgânico e inorgânico, necessários para o desenvolvimento da vida aquática e terrestre. Durante épocas de cheias e inundações, sedimentos que são carregados pelo rio influenciam o crescimento de plantas e trazem alimentos para os animais. Alguns rios chegam a subir entre 15 a 20 metros de altura nestes períodos. A floresta Xixuaú, na divisa dos estados de Amazonas e Roraima, depende exatamente deste ciclo para sua preservação.

Entretanto, todo este equilíbrio harmônico do bioma aquático da Amazônia está sob ameaça. Na região Amazônica (não só no Brasil, mas como em seus vizinhos), atualmente 154 usinas hidrelétricas e barragens estão em funcionamento, outras 21 se encontram em construção e nada menos que 277 novas estão sendo planejadas. Se estas obras forem concretizadas, apenas três rios afluentes do Amazonas manterão seu fluxo livre.

“A eletricidade pode ser importante para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. A energia hidrelétrica não é uma energia limpa, mas ela é melhor do que a energia proveniente de combustíveis fósseis e do que a energia nuclear. Mesmo assim, o planejamento e o desenvolvimento hidrelétrico precisam levar em conta que abordagens integradas são viáveis na Amazônia”, destaca Claudio Maretti, líder da Iniciativa Amazônia Viva.

© Copyright Planeta Sustentável

Fotos de satélite da Nasa registram drásticas mudanças ambientais no mundo

Impacto do derretimento de geleiras, represamento de águas e da urbanização podem ser vistos do alto ao longo dos anos
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A represa de Mirani, no sul do Paquistão, foi finalizada em 2006, para prover água potável, irrigação e energia elétrica. A imagem à esquerda mostra a região antes da construção da represa; à direita, a represa em 2011, com o avanço agrícola propiciado pela água (Foto: Nasa)

Vistas de cima, áreas enormes do planeta sofreram profundas transformações nas últimas décadas.

Imagens da Nasa mostram como o derretimento de geleiras, lagos em extinção e cidades em expansão alteraram o seu redor, da China à América do Sul.

O projeto completo, chamado Images of Change (Imagens da mudança), pode ser visto no site climate.nasa.gov/state_of_flux.

© Copyright BBC Brasil

Para Ibama, estudo de impacto da usina de São Luiz do Tapajós é falho

  Ribeirinhos de Pimental vivem em integração com o Tapajós: hábito de lavar a louça no rio ajuda a atrair os peixes

O processo de licenciamento da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, no Pará, pode demorar mais que o esperado pelo governo federal. Em avaliações técnicas divulgadas entre novembro de 2014 e o início de março, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) aponta diversas falhas no estudo de impactos sociais e ambientais da hidrelétrica e pede sua reformulação. Do jeito que o estudo está é impossível para o órgão licenciador julgar a viabilidade ambiental do empreendimento.

A expectativa do governo é de que a hidrelétrica de São Luiz entre em operação em agosto de 2020, de acordo com o último Plano Decenal de Expansão de Energia. Essa é a primeira das sete hidrelétricas planejadas para o Complexo Tapajós, que junto às hidrelétricas do rio Teles Pires se ligará ao sistema de energia do Sudeste/Centro-Oeste. Se construída, a barragem irá alagar território indígena Munduruku e remover completamente os ribeirinhos da comunidade centenária de Pimental, além de impactar as cidades de precária infraestrutura social no oeste do Pará, entre elas, Itaituba.

Os pareceres do IBAMA, publicados em seu site, somam 478 páginas de comentários sobre as informações apresentadas na pesquisa feita pela CNEC Worley Parsons, empresa de consultoria contratada pela Eletrobras, líder do Grupo de Estudos Tapajós. O grupo tem participação de outras empresas do setor de energia elétrica, como Endesa, as francesas GDF Suez e EDF, e da construtora Camargo Corrêa, acusada de pagar cerca de R$ 20 milhões em propina no projeto da usina de Belo Monte.
A avaliação do órgão ambiental sobre empreendimentos que possam gerar grandes impactos socioambientais é obrigatória por lei. Sem as licenças emitidas pelo IBAMA, a hidrelétrica não pode ser construída.

A Eletrobras foi notificada oficialmente dia 2 de março sobre a necessidade de detalhar e discutir questões relacionadas às alternativas técnicas para o empreendimento, como a localização da barragem, e as interferências causadas no Tapajós pelo enchimento e operação do reservatório da hidrelétrica. Entre mais de 180 pontos que precisam ser aprofundados no estudo, de acordo com os técnicos ambientais, o IBAMA também julgou necessário um detalhamento maior sobre o modo de vida, infraestrutura, educação, segurança e pesca nas áreas diretamente afetadas pelo projeto.

Conforme apontado nos pareceres, até dados básicos – como os índices de educação dos municípios de Itaituba e Trairão, por exemplo, estão errados. O estudo declara se basear no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, mas classifica os índices desses municípios como “alto”, enquanto a avaliação do Atlas é de “muito baixo”. “Pode-se dizer que os erros nos dados do EIA comprometem de tal forma a avaliação dos impactos relacionados ao tema que não é possível dimensionar a carência na educação nos municípios”, escreveram os técnicos do IBAMA. A observação vai de encontro às críticas feitas pela administração de Itaituba, que em outubro de 2014, apontou à CNEC WorleyParsons erros nas informações apresentadas no estudo de impactos.

Os técnicos também observaram que, embora o estudo cite questionamentos dos moradores da comunidade ribeirinha de Pimental, as dúvidas sobre como foi feito o cadastramento da população não foram resolvidas. “As respostas às questões apresentadas não foram descritas no EIA [Estudo de Impacto Ambiental]. Assim como não foram detalhadas a forma de lidar com essas questões nem no diagnóstico, nem nos impactos e nem nas propostas de medidas mitigadoras.”

O parecer ainda recomenda atenção para a possível diminuição de peixes na região. O pescado é a fonte principal de proteína para os ribeirinhos e o risco é de que o empreendimento comprometa a segurança alimentar dessa população.

Essa não é a primeira vez que o Grupo de Estudos Tapajós precisa refazer o trabalho sobre impactos sociais e ambientais. Em julho de 2014, o grupo apresentou os estudos de impacto às comunidades indígenas do Tapajós, mas a Funai julgou as informações precárias. A segunda versão do estudo foi apresentada em setembro. Nela, os pesquisadores apontam que aldeias indígenas serão diretamente afetadas e recomendam sua remoção, o que é vetado por lei. Por isso, a Funai produziu um parecer interno que considerou o projeto de São Luiz do Tapajós inviável.

Mas o IBAMA ainda aguarda manifestação oficial do órgão indigenista. Também são necessárias as manifestações das prefeituras das cidades afetadas, do IPHAN sobre o patrimônio arqueológico presente na região e do ICMBio sobre os impactos nas áreas de conservação que circundam a área planejada para a barragem.

A Pública questionou o IBAMA sobre os prazos e condições dadas à empresa para refazer os estudos, mas até o fechamento desse texto não obteve resposta.

© Copyright Agência Pública / UOL

Quantos seres humanos a Terra seria capaz de suportar?

Segundo pesquisadores, é preciso considerar a disponibilidade do planeta e o padrão de consumo dos indivíduos, que varia de acordo com o país

O número ideal seria entre 1,5 a 3 bilhões de pessoas. Atualmente, porém, a população é de 7 bilhões. Ou seja, já somos mais do que o dobro do que a Terra conseguiria abrigar de forma sustentável. De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), três fatores devem ser considerados para o cálculo: disponibilidade de comida, água e terra; padrão de consumo e capacidade do planeta de absorver a poluição; e número de pessoas.

Para o pesquisador Alan Weisman, autor de Contagem Regressiva – A Nossa Última e Melhor Esperança para um Futuro na Terra, há um paradoxo. Não adianta aumentar a nossa capacidade de alimentar e manter bilhões de pessoas vivas se cada vez mais pessoas continuarem nascendo.

“No início do século 20 éramos 2 bilhões e tínhamos vastas florestas, qualidade de vida, comida para todo mundo e pouca emissão de combustíveis fósseis. Ou seja, tínhamos um planeta saudável”, afirma Weisman.

CRESCIMENTO INSUSTENTÁVEL
No século 20, a população mundial quadruplicou
Saco sem fundo: com o avanço da tecnologia e da medicina, mais gente vive por mais tempo. Também produzimos mais grãos utilizando o mesmo espaço – atualmente, nos EUA, cerca de 70% dos grãos alimentam gado (que geram alimento para o homem). Porém, quanto mais comida produzimos, mais pessoas surgem para serem alimentadas.
Alívio temporário: a taxa de natalidade mundial está diminuindo. Atualmente muitas pessoas vivem nas cidades e as famílias não precisam ter tantas crianças (antigamente, os filhos eram importante força de trabalho na lavoura). Além disso, os lares estão cada vez menores e o custo de vida maior. Por tudo isso, pessoas urbanas têm cada vez menos filhos.
Somos exagerados: desenvolvimento também não é garantia de abundância. Se toda a população consumisse como os americanos, a Terra não suportaria – precisaríamos do triplo de recursos existentes atualmente. Mas nem precisamos ir tão longe: com o consumo médio atual, já exploramos pelo menos duas vezes mais do que o planeta oferece.
Planejamento familiar: de acordo com Alan Weisman, podemos reduzir a quantidade de pessoas que vivem na Terra ao longo de três gerações sem tomar medidas extremas. “Há países que reduziram o número de habitantes apenas com distribuição de contraceptivos, educação e planejamento familiar, sem precisar obrigar as famílias a ter menos filhos”.

© Copyright Mundo Estranho / Planeta Sustentável

Futuro da água brasileira pode ser decidido nos tribunais

O Brasil detém pouco mais de um décimo das reservas de água potável do mundo. No entanto, o País já registra um conflito por água a cada quatro dias, segundo o mais recente relatório da Comissão Pastoral da Terra, órgão ligado à Igreja Católica, obtido com exclusividade pela BBC Brasil. Em 2013, foram registradas 93 disputas locais em 19 Estados, 17% a mais do que no ano anterior. Mas esses conflitos não estão se tornando apenas mais frequentes. Também vêm assumindo dimensões inéditas.

Há pouco mais de uma semana, os governos de São Paulo e Rio de Janeiro vivem um embate. A razão é o projeto de São Paulo de captar água do Rio Paraíba do Sul e levá-la ao sistema Cantareira, grupo de reservatórios que abastece 15 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo e no interior do Estado. O problema é que este rio já abastece outras 15 milhões de pessoas no Grande Rio e no interior paulista. O governo fluminense é contra a proposta. Desde então, Rio e São Paulo trocam farpas e ameaças de processo publicamente.

Não se tinha notícia – até agora – de um conflito desta proporção, envolvendo os dois Estados mais ricos da federação e que coloca em jogo o abastecimento de 15% da população do País. “É o conflito mais sério que já tivemos”, diz Sandra Kishi, procuradora regional da República e coordenadora do grupo de trabalho de águas do Ministério Público Federal (MPF).

Prejuízos
O Rio alega que será prejudicado porque hoje não tem outra fonte de abastecimento. São Paulo retruca que a ligação não trará prejuízos ao Rio, porque só captaria 5% do volume fornecido atualmente ao Estado fluminense e que a medida será vantajosa para ambos os Estados porque, quando chover demais no reservatório que atende São Paulo, será possível guardar o excesso de água no reservatório que atende o Rio (e vice-versa), criando um sistema de estoque para quando chover pouco.

São Paulo ainda alerta que o Rio não pode interferir na questão porque a ligação estaria dentro dos limites paulistas. “Providenciaremos os documentos necessários para a permissão”, diz o secretário estadual de saneamento e recursos hídricos de São Paulo, Edson Giriboni, à BBC Brasil. “Sempre podemos recorrer à Justiça se necessário. Se vamos ou não fazer isso, depende deles”.

Se a permissão for concedida a São Paulo, ela poderá ser questionada no Supremo Tribunal Federal, instância onde são resolvidas as contendas entre Estados. “Não se pode dizer que vai fazer o quiser porque o rio é fluminense ou paulista. O curso da água não respeita fronteiras”, afirma Kishi, do MPF. “Essa decisão caberá ao comitê que administra a bacia do Paraíba do Sul”.

Fim da ilusão
Haver disputas por água no Brasil é uma situação que, a princípio, parece contraditória. O País detém 12% da água potável do mundo e sempre foi apontado como uma das regiões do planeta onde haverá menos riscos de falta de água neste século.

Mas a estiagem entre dezembro e fevereiro passados, a pior em oito décadas, mostrou que essa abundância é uma ilusão. Há muita água, mas ela está mal distribuída. Cerca de 80% fica na região amazônica, onde vive 5% da população. Os outros 95% dos brasileiros precisam dividir os 20% que restam.

Esse problema se agrava porque grande parte das fontes de água nas regiões mais populosas do País está poluída demais. Um levantamento da ONG SOS Mata Atlântica mostra que 40% de 96 rios, córregos ou lagos das regiões Sul e Sudeste apresentam qualidade ruim ou péssima. Quanto mais próximo dos centros urbanos, pior sua situação.

“A ideia de abundância nos mimou”, diz Rômulo Sampaio, do centro de meio ambiente da escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio. “Os políticos não investiram o suficiente porque pensaram que não seria necessário e ainda maltratamos os recursos que temos.”

Conflito de interesses
Isso obriga cidades a ir buscar água cada vez mais longe. Em algum momento, seus interesses entram em conflito. É o que ocorre entre Rio e São Paulo e entre outros Estados brasileiros.

Com a estiagem, o nível do sistema Cantareira chegou a 14%, o menor nível desde sua criação. A fragilidade do sistema que abastece metade da população da Grande São Paulo ficou evidente e fez o governo paulista querer por em prática o projeto do Paraíba do Sul, que estava em estudo havia seis anos.

“Solucionar a questão hídrica é o maior desafio do Direito ambiental hoje”, afirma Sampaio. “Temos boas regras para lidar com isso, criadas nos anos 1990. Agora elas serão testadas”.

De quem é a água?
A Política Nacional de Recursos Hídricos foi criada em 1997 e, desde então, é o principal norte da gestão da água no País. Nela, foram estabelecidos princípios importantes, como a prioridade do abastecimento humano e de animais e o incentivo ao uso eficiente da água. Mas a lei não diz quem tem mais direitos sobre determinada fonte hídrica.

O advogado Paulo Affonso Leme Machado, ex-consultor da ONU e um dos mais respeitados especialistas em Direito Ambiental no País, defende uma interpretação conjunta de três artigos da política que daria prioridade ao uso das águas de uma bacia aos habitantes dos municípios que existem nela.

“Isso não está expresso na lei, mas pode ser inferida porque ela estabelece a bacia hidrográfica como unidade mais importante do sistema hídrico, cria o controle do uso e afirma que tudo que é arrecadado com suas águas deve ser reinvestido, em primeiro lugar, na própria bacia”, diz Machado.

A partir dessa interpretação, defendida também por outros juristas consultados pela BBC Brasil, São Paulo não teria o direito de usar recursos de uma bacia fora de seus limites geográficos em prejuízo de outras cidades que estão nesta bacia. “Fazer isso é mais que injustiça, é anarquia”, diz Machado.

Teste nos tribunais
Esta interpretação ainda não foi testada nos tribunais, o que pode ocorrer em breve não só por causa da disputa entre Rio e São Paulo, mas também por outro conflito envolvendo a Grande São Paulo. A permissão de uso do Cantareira expirará em agosto e está sendo rediscutida. Além da região metropolitana da capital paulista, este sistema abastece 76 cidades no interior do Estado, que pedem mais água além do limite atual para a região, de 3 mil litros por segundo.

No entanto, o Cantareira já opera no limite estabelecido por regras ambientais. Para o interior ter mais água, seria preciso reduzir o volume de 24,8 mil litros por segundo fornecido à Grande São Paulo, que por sua vez também pleiteia um limite maior. Não será possível atender às duas regiões sem causar danos ao sistema.

As cidades do interior alegam que, na nova permissão de uso do Cantareira, é preciso haver uma distribuição mais equilibrada da água, princípio previsto em convenções internacionais sobre o tema. As cidades do interior afirmam que, se isso não for feito, sua economia não poderá mais crescer, porque novas indústrias que dependem de água não conseguirão licenças ambientais.

Estas cidades ainda questionam por que não foi cumprida a condição prevista na permissão de uso do Cantareira concedida há dez anos de fazer investimentos para reduzir a dependência da Grande São Paulo em relação a este sistema. “Pedimos explicações ao governo estadual para resolver isso na esfera administrativa, mas iremos à Justiça se as respostas não forem satisfatórias”, diz a promotora Alexandra Faccioli, do Ministério Público Estadual.

Novos conflitos à vista
O debate sobre o uso da água é mais relevante diante da previsão de que os conflitos hídricos serão mais comuns daqui em diante. Segundo o Pacific Institute (IP), um dos principais institutos de pesquisa sobre o tema do mundo, o número de disputas hídricas violentas no mundo quadruplicou na última década e o risco de novos conflitos só crescerá com a maior competição pelo recurso, o atual gerenciamento ruim das fontes hídricas e os impactos das mudanças climáticas.

Antônio Carlos Zuffo, especialista em planejamento hídrico da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ainda alerta que a oscilação histórica do clima acentuará a falta d’água. O pesquisador explica que entre 1970 e 2012 houve chuvas até 30% acima da média histórica. “Agora estamos entrando num período de algumas décadas de chuvas abaixo da média”, afirma Zuffo. “A disputa por água se intensificará”.

Os órgãos federais se dizem preocupados com esse acirramento dos conflitos e trabalham para mediá-los antes que se agravem a ponto de a única solução ser a via judicial. No caso específico entre Rio e São Paulo, isso significa fazer com que os dois Estados cheguem a um entendimento baseado em estudos sobre o aproveitamento das águas do Paraíba do Sul.

“Nosso papel é estimular um debate técnico e evitar a politização dessa questão, para que esse tipo de problema não caia na Justiça”, afirma Rodrigo Flecha, superintendente de regulação da Agência Nacional de Águas (ANA).

Para o secretário nacional de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Ney Maranhão, os dois Estados precisam chegar a um consenso quanto a uma gestão compartilhada destes recursos hídricos. “Rio e São Paulo precisam sentar à mesa e elaborar um sistema que seja confortável para os dois lados”, afirma Maranhão. “Uma discussão dessa natureza não pode ser discuta emocionalmente”.

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