Especialistas defendem uso de água de esgoto tratada para combater crise

No entanto, como medida mais imediata, a economia de água é imprescindível

Em meio à maior crise hídrica registrada no Estado de São Paulo, soluções e paliativos vão surgindo. Segundo o professor Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp (FEC), Edson Aparecido Abdul Nour, o tratamento de esgoto, transformado em água de reuso, não é novidade. O processo já é utilizado para uso em indústrias, lavagem urbana e irrigação. “Geralmente quando se faz isso já tem comprador específico, tanto que a legislação responsabiliza o comprador pelo uso final. É um controle. Em alguns processos na indústria se usa muita água e a água de reuso acaba sendo mais barata do que a do abastecimento normal”, explica o professor.

O professor, especialista em saneamento e meio ambiente, destaca a iniciativa de São Paulo como vantajosa. Para ele é uma questão de saneamento básico, assunto pouco discutido, mas muito necessário em cidades brasileiras. “Em questão de saneamento muita coisa precisa ser feita. Somos extremamente atrasados em termos de resolver o problema do saneamento básico de uma forma geral”, explica.

Segundo ele, o estado de São Paulo ainda sai na frente em algumas iniciativas, mas ainda há um déficit muito grande das estações de tratamento de esgoto. “Então qualquer tipo de ação é importante, é o tipo de política de estado que deveria ter uma postura melhor do governo, não só de São Paulo, mas de outros estados também”.

A nova medida, adotada pelo governo de São Paulo, tem como objetivo diminuir a pressão por demanda hídrica no sistema da Cantareira

 Para o também professor da FEC – Unicamp, especialista em recursos hídricos, Antônio Carlos Zuffo, a atitude imediata, para sanar os problemas resultantes da estiagem, é a economia de água. Segundo ele a situação é crítica. “De imediato agora é a economia de água. É previsto que nessa segunda-feira a primeira parcela do volume morto chegue ao fim, se não chover entre sábado e domingo. O nível da Cantareira tem diminuído 0,11% por dia”, afirma.

Assim como Edson, Zuffo destaca a iniciativa do governo de São Paulo como algo favorável, devido à crise hídrica no estado. “Estamos numa situação onde não temos mais de onde tirar a água, temos que nos adaptar de outra forma. A água de reuso vai entrar na bacia ou não vai ter como atender essa demanda”.

Segundo o professor da Unicamp, o governo de São Paulo pretende lançar na bacia do Rio Guarapiranga a água resultante do esgoto tratado. A intenção é que com essa carga de água tratada a disponibilidade hídrica da bacia aumente, diminuindo a dependência do sistema da Cantareira, que atualmente já está no segundo volume morto para tender a necessidade de abastecimento.

O professor explica que essa água lançada na bacia do Guarapiranga vai ser tratada como é feito normalmente com a água do rio, que abastece a represa de mesmo nome. ” O efluente que hoje é descartado vai para um grande reservatório e lá ele vai passar por uma redução bioquímica e você tem a expectativa de diminuir o lançamento bruto de esgoto, melhorando a situação da qualidade de água do Guarapiranga, melhorando o disponibilidade hídrica”.

Segundo Zuffo, o pior seria continuar com a atual situação de despejo de esgoto bruto. A água de reuso despejada melhora a qualidade da água do rio, que já recebe em algum ponto o esgoto bruto da cidade de São Paulo. “Muitas vezes, nos efluente, o esgoto é jogado na forma bruta e essa água é poluída. Para você falar de reuso, de que a água não pode ter qualidade porque já foi esgoto, o que é feito hoje no Guarapiranga é muito pior, são vários lançamentos de esgoto bruto nas águas. O tratamento dessa água fica muito mais caro, por causa da concentração de fósforo e nitrogênio. Se você faz o tratamento do efluente e essa água é lançada no rio, ela recebe um tratamento terciário e depois essa água é captada para o abastecimento. Isso melhora a qualidade da água”, explica o professor da Unicamp.

Zuffo destaca que a economia de água é uma medida paliativa, porém necessária nesse momento de crise hídrica. “O que dá para aprender com essa crise é que devemos tratar os efluentes desses locais poluídos. Lembrando a população que essas últimas chuvas não vão surtir o efeito desejado. O sistema da Cantareira vai continuar usando o volume morto por enquanto, então as pessoas tem que continuar com a economia de água”. O professor critica também a falta de informação oficial vindo do próprio governo de São Paulo, apesar da iniciativa da construção das estações de tratamento. As campanhas que existem são ou das ONGs ou das redes sociais, não tem nada mais expressivo nesse sentido, vindo de fontes oficiais do governo. A postura é de negação da crise hídrica”.

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Indústria cearense perde peso no PIB

A perda foi de 3 pontos percentuais na década de 2001 a 2011. No Brasil, no mesmo período, foi de 3,5

A indústria perdeu peso na composição do Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará na década de 2001 a 2011. A perda foi de 3 pontos percentuais. No Brasil, no mesmo período, a perda foi de 3,5 pontos percentuais. Os dados compõem o estudo Perfil da Indústria nos Estados, divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília.

Conforme o estudo, a indústria corresponde a 19,6% de todas as riquezas produzidas no Ceará em 2011. O PIB do setor no ano mais recente da pesquisa era de R$ 17,2 bilhões. Na proporção nacional, o Estado não passa de 1,8% do PIB industrial do Brasil. Na década analisada, o Estado avançou 0,2 ponto percentual.
Na região, o Ceará é o terceiro estado mais rico, com um PIB de R$ 88 bilhões. Perde para Bahia (R$ 159,9 bi) e Pernambuco (R$ 104.4 bi). O PIB cearense corresponde a 15,8% da soma das riquezas produzidas no Nordeste. No Brasil, o Ceará ocupa a posição 13ª, com 2,1% do PIB do País.
Os setores com maior participação no PIB da indústria do Ceará foram: alimentos (20,6%), couro e calçados (18,3%) e vestuário (9,1%). Juntos, representam quase metade da indústria do Ceará: 48%. Com 2,9% do universo de companhias do setor no Brasil, em 2013, o Ceará tem 14.979 empresas industriais. A maioria é de micro porte (até 9 funcionários). Elas são 67,5% do total. As pequenas (de 10 a 49 empregados) são 24,8%. Médias empresas (50 a 249) são 6,5%. Grandes são 1,2%. Estas são aquelas com 250 ou mais funcionários.
No Nordeste e no País, o cenário é semelhante. As micro são 68,2% na região e 68,7% em nível nacional. A repetição acontece também nas demais categorias. Em pequenas, Nordeste 24% e Brasil 24,2%. Nas grandes, 1,4 (NE) e 1,3% Brasil.
O País depende pouco das exportações cearenses na hora de compor sua balança comercial industrial. As indústrias cearenses pesam ínfimo 0,9% do total das exportações de industrializados do País. Mas é a indústria a responsável por 76,6% das exportações do Ceará. Os produtos manufaturados equivalem a 58,2% das exportações do Estado.
O setor mais importante nas exportações cearenses é a preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados. Pesou 42,7% na balança do Ceará em 2013. O estudo da CNI foi elaborado com dados do IBGE, Secex, Aneel, MTE, Confaz, MEC e Sebrae.

Projeto do PCJ de R$ 6,1 bi quer usar água do mar para aliviar o Cantareira

Estudo do consórcio prevê usina de dessalinização em Bertioga e adutoras.
Bombeamento seria com energia eólica; Sabesp diz que ideia é ‘inviável’.

O Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) divulgou nesta sexta-feira (7) um projeto que prevê a dessalinização de água do mar como opção para a crise hídrica do Sistema Cantareira, das Bacias PCJ e do Alto Tietê. A proposta calcula um gasto de R$ 6,1 bilhões para aumendar a oferta de água tanto na capital como no interior do estado de São Paulo.

Para tal, seria necessária a implantação de uma usina em Bertioga (SP) e a construção de adutoras que fariam o transporte até o Reservatório Jaguari/Jacareí do Cantareira. O projeto já foi entregue à Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Em nota, a companhia classicou a ideia como “inviável”.

A equipe técnica do PCJ estudou cinco alternativas de traçados para trazer a água do mar para a região da cabeceira da Bacia do Rio Piracicaba, sendo o mais viável o que faria a captação em Bertioga, por ser o trajeto mais curto, com 99,9 km de adutoras. No entanto, há um desnível a ser superado por meio de bombeamento de no mínimo 663 metros de altitude para chegar à região do Sistema Cantareira, segundo o consórcio.

A opção por lançar a água dessalinizada no sistema Jaguari/Jacareí permitiria manter de forma artificial o sistema com no mínimo 80% de sua capacidade em tempo integral. Dessa forma, de acordo com o estudo, o espaço útil de 20% seria respeitado como reserva estratégica de volume de espera. Na prática, essa reserva acumularia água de chuvas no período de grandes precipitações no verão, evitando inundações nas barragens.

Energia eólica
O secretário executivo da entidade e coordenador do projeto, Francisco Lahóz, disse que a energia necessária para o bombeamento dessa água poderia ser obtida com a implantação de usinas eólicas, o que evitaria a sobrecarga do sistema elétrico convencional.

“Além de ser uma obra essencial para a ampliação da oferta de água para salvar as duas principais regiões econômicas do Brasil, estamos preocupados com a minimização dos impactos ambientais. O uso de energia eólica é favorecido pelas correntes de ventos litorâneas”, comentou.

Crise de água em São Paulo gera debate sobre formas de captação (Foto: Luis Moura/Estadão Conteúdo)

Aquífero Guarani
Lahóz disse ao G1 que a ideia de “puxar” água do mar seria melhor do que um eventual uso das reservas do Aquífero Guarani, que chegou a ser cogitado pelo governo estadual. “A disponibilidade hídrica nos oceanos é muito maior. E o aquífero não é a ‘8ª maravilha do mundo’, como todos pensam, pois a água dele água não é uniforme. Há pontos com altos índice de cálcio, magnésio, flúor e enxofre. Em certos locais até mesmo a dessalinização é necessária”, citou.

O estudo do PCJ aponta duas tecnologias de dessalinização: por osmose reversa, que já é utilizada em Israel, e a de evaporação. De acordo com a equipe técnica, as duas formas são eficientes, mas ainda carecem de estudos mais detalhados de viabilidade técnica e econômica de acordo com a realidade da região que será beneficiada.

O conteúdo do estudo foi enviado há 15 dias para a direção técnica da Sabesp, operadora do Sistema Cantareira. Segundo o PCJ, o órgão respondeu ao ofício de encaminhamento dizendo que o projeto estava sendo analisado. O projeto também será enviado a todos os municípios e empresas associados ao consórcio.

Sabesp
Em nota, a Sabesp informou já ter realizado alguns estudos de dessalinização. “Porém, os custos de implantação e de operação se mostraram elevados para os parâmetros operacionais da companhia”, citou.

“Outro fator que contribuiu para demonstrar a inviabilidade do projeto é a característica geográfica da Serra do Mar. A água precisaria ser bombeada para 800m de altura, o que tornaria o projeto de difícil aplicação e elevaria ainda mais seu custo”, concluiu o documento.

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Água de esgoto será tratada para consumo em São Paulo

Governador falou sobre a proposta nesta quarta-feira em São Paulo.
Ele disse que esse é o caminho seguido pelas grandes metrópoles.

 

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciou nesta quarta-feira (5) que vai construir uma Estação de Produção de Água de Reuso (EPAR) na Zona Sul de São Paulo, para gerar dois metros cúbicos de água por segundo no abastecimento da represa de Guarapiranga. A obra deve ser entregue em dezembro de 2015.

Seca afeta abastecimento

Segundo o governador, o esgoto será captado na altura da Ponte Transamérica de um emissário que passa margeando o Rio Pinheiros e que hoje vai para a Estação de Tratamento de Barueri. O esgoto será enviado então para essa EPAR, que ficará perto do Autódromo de Interlagos.

“Vamos gerar nessa EPAR dois metros cúbicos por segundo de água de reuso, que tem duplo tratamento. Trata o esgoto e trata novamente para poder se utilizar. Dessa estação EPAR você faz uma adutora e joga água dentro da Guarapiranga. Esse é o grande caminho das grandes metrópoles. Cada ter mais água de reuso “, disse Alckmin.

“Esses dois metros que nós estamos tirando a mais do Guarapiranga serão compensados pela água de reuso”, afirmou o governador. Desde julho, o sistema abastece 4,9 milhões de pessoas na capital e foi uma alternativa encontrada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para diminuir a sobrecarga do Sistema Cantareira durante a crise hídrica.

O diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, afirmou que essa é a primeira estação de água de reuso a ser lançada em manancial. Uma outra alternativa está em planejamento e deve ser construída até 2015.

“Nós temos mais uma alternativa que é aproveitamento de água de reuso da ETE Barueri que esta sendo encaminhado à represa Isolina que produz no Baixo Cotia. Estaremos duplicando a capacidade da ETA Baixo Cotia, que tem capacidade de 1 m³ por segundo. Isso atenderia toda a região Oeste da cidade de São Paulo que hoje é abastecida pelo Sistema Cantareira. A meta é concluir em 2015.”

A Sabesp informou em nota que “tanto a água de reúso devolvida ao manancial quanto a água potável distribuída à população obedecem à legislação existente, de modo a garantir a preservação do meio ambiente e a saúde pública.”

Segundo a Sabesp, primeiro será feito o tratamento do esgoto, cujo produto final é um líquido já despoluído, dentro das normas brasileiras. Depois será realizado o tratamento normal, dado a toda água distribuída.

29 reservatórios
Alckmin anunciou nesta quarta-feira investimentos da Sabesp para aumentar a reservação de água com a construção de 29 novos reservatórios, que ampliarão a capacidade de armazenamento de água em 10% na Região Metropolitana de São Paulo.

O governador apresentou um novo equipamento que permite tratar a água mais rápido e aumentar a produção proveniente do sistema Guarapiranga.

Billings
Outra medida adotada pelo governo de São Paulo há um mês e anunciada nesta quarta pelo governador foi a limitação da vazão da água da represa Billings para a usina hidrelétrica Henry Borden em 6m³/s.

Localizada em Cubatão, a Henry Borden utiliza água da Billings para produzir energia elétrica para a Baixada Santista. Com a limitação da Billings, a represa terá mais água, que será bombeada para a Guarapiranga. Alckmin diz que a medida não afeta a produção de energia para a Baixada e deixou claro que a prioridade é o consumo humano.

“Conseguimos isso há um mês atrás. Com isso a Billings não cai e passa para a Guarapiranga. Henry Borden continua, mas na realidade há que se priorizar o abastecimento da região metropolitana. Quem gera energia lá embaixo é a Emae. Acertamos com o Operador Nacional do Sistema. A Agência Nacional de Águas (ANA) também participou.”

Foto mostra nível baixo de reservatório que integra o Sistema Guarapiranga (Foto: Reprodução TV Globo)
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