Downton Abbey, a série que retrata a vida da aristocracia inglesa no início do século passado, estreou no início deste mês na televisão aberta pela TV Cultura, em sua versão dublada em português. O canal adquiriu as quatro primeiras temporadas, que serão exibidas de quarta a sexta-feira.
Sua entrada na televisão brasileira tem muito a ensinar sobre uma das questões que atravessa a desigualdade brasileira: a divisão em classes. Downton Abbey conta a história de uma família aristocrática em lenta decadência, confrontada por um lado com a ascensão da classe média, por outro com o início da desnaturalização da posição dos criados, estes por sua vez também organizados em um rigoroso sistema hierárquico (mordomos, governantas, damas de companhia, cozinheiras, assistentes de cozinha, valetes).
Nesse contexto, há inúmeros dramas, mortes, nascimentos, casamentos, e tudo mais que pode acontecer na vida de uma família ao longo dos anos. Esta é a característica, digamos, novelesca da série, na qual chamam a atenção dois aspectos. O primeiro parece explícito e intencional: mostrar o processo de transformação da aristocracia, então ameaçada de perder seus privilégios, seja pela escalada econômica e cultural da classe média, seja por que a classe trabalhadora já não está mais disposta a se manter submissa.
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