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Cientistas apresentam “nova teoria” sobre a formação da Terra

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Foto: Arquivo Geografia Onne

Em experimentos nos quais foram replicadas as condições da formação da Terra, os cientistas Anke Wohlers e Bernard Wood, da universidade britânica de Oxford, observaram que a crosta e o manto terrestre apresentam uma “relação de metais raros”, como samário e neodímio, mais alta que a da maioria dos meteoritos, a partir dos quais se supõe que “cresceu a Terra”. A revelação foi publicada nesta quarta-feira (15) na revista “Nature”. Em 2012, uma equipe de cientistas do Centro Nacional francês de Pesquisas Científicas (CNRS) já havia descoberto que a formação da Terra, ao contrário do que era pensado até então, não ocorreu pela colisão de um só tipo de meteorito. Agora, nesta pesquisa, foi descoberto que a adição de meteoritos não metálicos (rochosos) e ricos em sulfeto, como os presentes em Mercúrio, podem ter provocado essa anomalia.

O novo contexto também pode servir para explicar, segundo os autores no texto, por que “a abundante presença de certos elementos raros” encontrados no manto da Terra não bate com as teorias vigentes até agora sobre a formação do planeta. Um “corpo similar” ao do planeta Mercúrio pode ter sido um dos “ingredientes-chave” para que o núcleo da Terra incorporasse em suas origens a fonte de energia responsável pela criação de seu campo magnético.

Esses meteoritos não metálicos, conhecidos também como condritos de enstatita, podem ter contribuído para a formação de um núcleo terrestre rico em sulfeto capaz de abrigar urânio e tório o suficiente, com os quais se alimenta o “geodínamo”, responsável pela existência do campo magnético terrestre.

Estudos anteriores tentaram explicar a alta relação de samário e neodímio considerando a possibilidade de que exista um “depósito oculto” com uma “relação complementar baixa” desses elementos no manto terrestre ou que esse material tenha sido despejado da Terra por colisões.

Os autores lembram que outros modelos baseados em uma Terra “menos oxidada” e “baixa em sulfeto” apresentaram cenários nos quais elementos geradores de calor foram incapazes de dissolver um núcleo terrestre rico em ferro.

As descobertas de Wohlers e Wood parecem resolver o “problema da desconhecida fonte de energia do dínamo”, segundo destaca em outro artigo publicado nesta quarta-feira pela “Nature” o cientista Richard Carlson.

Em seu texto, intitulado “Uma Nova Teoria sobre a Formação da Terra”, Carlson indica que seus experimentos exploram as consequências derivadas da teoria que sugere que “blocos de construção” que criaram a Terra mudaram “sistematicamente” sua composição durante o processo de formação.

“Seus resultados nos levam à intrigante conclusão que se a formação da Terra começou com blocos de construção muito reduzidos quimicamente, o núcleo metálico do planeta poderia conter urânio suficiente para alimentar a convecção que criou, e manteve, o campo magnético da Terra durante mais de 3 bilhões de anos.”

 

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Jovem de 23 anos será primeiro civil brasileiro a ir ao espaço

O estudante de Engenharia Pedro Henrique Dória Nehme, de Brasília, será o primeiro civil brasileiro a ir ao espaço
O estudante de Engenharia Pedro Henrique Dória Nehme, de Brasília, será o primeiro civil brasileiro a ir ao espaço.

O brasiliense Pedro Nehme, 23, será o segundo brasileiro a ir ao espaço e o primeiro civil do país a viver essa experiência. O estudante de engenharia elétrica da UnB (Universidade de Brasília) fará um voo suborbital a bordo do foguete Lynk Mark 2, no ano que vem.

A nave espacial é desenvolvida pela XCOR Space Expeditions, empresa norte-americana parceira da KLM, companhia aérea holandesa que em 2013 realizou um concurso para escolher um civil e enviá-lo ao espaço em um voo suborbital a bordo do foguete. Nehme ganhou o concurso, sendo escolhido entre 129 mil candidatos.

O desafio da KLM era descobrir em que altura um balão de hélio, lançado da Terra, estouraria. “A inscrição era feita por um site e o pessoal do concurso não forneceu nenhuma informação sobre o balão, ou seja, qual a quantidade de gás, ou o peso da caixa com os sensores, etc.”, explicou o estudante. O balão foi solto no deserto de Nevada (EUA) e estourou em uma altitude próxima ao palpite feito por Pedro Nehme. “Eu fui quem mais se aproximou do ponto em que o balão estourou e ganhei a viagem. Eu realmente não esperava ganhar o concurso. Acredito que o fato de ter trabalhado com isso na Nasa [agência espacial norte-americana] me deu algumas vantagens em relação a outras pessoas”, acrescentou.

Pedro trabalhou no Goddard Space Flight Center, um programa da Nasa, em 2012, enquanto estudava na Catholic University of America, em Washington (EUA), após ganhar uma bolsa no programa Ciência de Fronteiras, do governo federal. Ele conta que trabalhou em um projeto de balão de alta altitude chamado Bettii (balão experimentam com telescópios gêmeos para interferometria infravermelha, em tradução livre). “Esse balão carrega um telescópio a até 40 km de altitude, evitando a parte da atmosfera que acaba absorvendo a porção do infravermelho das luzes que chegam até a Terra. O objetivo principal do projeto é observar e descobrir exoplanetas, em especial planetas que possuem potencial para abrigar vida”, explicou.

O foguete Lynk Mark 2 realizará uma trajetória parabólica e chegará a uma altitude de até 100 quilômetros. O voo terá duração estimada entre 45 e 60 minutos. O veículo espacial partirá e pousará em uma pista, como se fosse um avião.

A missão de Nehme no espaço

O jovem conduzirá experimentos selecionados pelo programa de Microgravidade da AEB (Agência Espacial Brasileira). A seleção para escolha de projetos foi aberta no dia 24 de março. O edital é direcionado a projetos de escolas públicas de educação básica em parceria com instituições de ensino superior. As propostas poderão ser enviadas até 27 de abril. Os experimentos que serão levados ao espaço pelo estudante serão divulgados no dia 2 de maio.

Segundo Nehme, essa é a segunda oportunidade que o Programa Microgravidade disponibiliza para a realização de testes em voos espaciais tripulados. “A primeira foi com o astronauta Marcos Pontes. Acredito que essa é uma das raras oportunidades de realizar pesquisas voltadas para fisiologia humana em um voo espacial. Nesse sentido é uma oportunidade muito importante para a medicina aeroespacial no Brasil. Por outro lado, o desenvolvimento do experimento é realizado por uma escola de educação básica, em parceria com uma universidade, o que pode ser muito inspirador para esses jovens continuarem trabalhando no setor”, acredita.

Rotina de treinamentos

Ir ao espaço não é uma tarefa das mais fáceis. É preciso muita preparação e horas de voo para enfrentar a missão. Por isso, o estudante está participando de vários treinamentos promovidos pela AEB com o objetivo de deixá-lo pronto para o voo e manejar os experimentos selecionados.

No início de março, Pedro foi enviado à Filadélfia, nos Estados Unidos, onde realizou treinos na centrífuga Phoenix do Nastar Center. Em abril, ele irá à Rússia, onde fará testes em situação de gravidade zero, para simular o ambiente de microgravidade. O jovem também fará testes no centro de medicina aeroespacial da FAB (Força Aérea Brasileira) no Rio de Janeiro, onde passará por simulações de falta de oxigênio, ejeção e desorientação espacial. “Não sei se existe um desafio principal no treinamento. Como tudo é novo, é um desafio para mim. Tenho feito o meu melhor para corresponder e aproveitar os treinamentos da melhor forma possível”, afirmou.

Em todas as fases do treinamento, ele será acompanhado por especialistas do SBMA (Sociedade Brasileira de Medicina Aeroespacial). “Isso é importante porque não existem muitas pesquisas com pessoas comuns realizando voos espaciais. A pesquisa que irão fazer comigo pode revelar dificuldades relacionadas a pessoas comuns realizando esse tipo de viagem, e que não possuem várias horas de voo em aviação de caça”, explicou.

Projeções futuras

Pedro Nehme se forma este ano no curso de engenharia elétrica da UnB (Universidade de Brasília) e conta que pretende seguir no setor aeroespacial. “Acredito que o Brasil é um país que pode ganhar muito com investimentos nessa área. Ainda falta muito a ser feito, mas vejo isso como um desafio a todos os novos profissionais que estão entrando nessa área agora”, disse.

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Conheça Fordlândia, a cidade construída pela Ford na Amazônia

Ruínas de Fordlândia hoje estão sendo saqueadas (Fonte da imagem: Wikimedia)

Em meio a cerca de 300 mil seringueiras, na Amazônia, é possível encontrar ruínas que parecem ter saído dos subúrbios dos Estados Unidos, com casas pré-fabricadas, cinemas, hospitais e escolas. E, de certa forma, foi isso que aconteceu: no final da década de 20, Henry Ford tentou construir no Brasil uma espécie de Detroit, cidade norte-americana cuja principal indústria é a automobilística. Para isso, Ford contava com um latifúndio de 1 milhão de hectares nas margens do rio Tapajós, a cerca de um dia e meio de viagem de barco de Santarém, no Pará. A “cidade” planejada pelo empresário deveria abrigar milhares de trabalhadores brasileiros e estrangeiros, além de servir como fonte de látex para a produção mundial da companhia. Porém, envolto em muitas dificuldades, o projeto acabou falhando.

(Fonte da imagem: The Henry Ford/Flickr)

Terreno inapropriado e cultura conflitante

O projeto da Fordlândia começou errado. Sem saber que poderia negociar terras diretamente com o governo brasileiro — e consegui-las gratuitamente —, Henry Ford acabou comprando a propriedade de um cafeicultor por cerca de R$ 125 mil nos dias de hoPágina com mais informações fotos: je. Porém, havia um problema: a terra, montanhosa demais, também era inapropriada para o cultivo de seringueira. Mesmo assim, a cidade começou a ser erguida em meio à floresta e o projeto foi sendo estruturado. Madeira, telhas e até mesmo as mudas das seringueiras foram trazidas dos EUA de navio. Pessoas do Brasil todo seguiam para o norte do país na expectativa de um emprego na Fordlândia, mas nem todos eram aceitos, visto que o exame médico era bastante rigoroso. Mesmo assim, muita gente sem experiência foi contratada, o que causou uma espécie de debilidade de mão de obra. A cidade possuía vilas para administradores, com campo de golfe, cinema e piscina, e para funcionários, com estruturas mais modestas. Além disso, ali também ficava um dos melhores hospitais da região e, como se não bastasse, o salário era pago quinzenalmente e em dinheiro, algo muito bom para a época. Mas como dizem, dinheiro não é tudo. Com o passar do tempo, os funcionários começaram a ficar insatisfeitos com regras que, na época, eram muito novas para os trabalhadores, como relógios de ponto, sirenes e regras de comportamento que desmotivavam a permanência no local. Isso gerou uma rotatividade muito grande de funcionários.

“Abaixo ao espinafre!”

Também foi na Fordlândia que aconteceu um protesto curioso. Cansados da alimentação à moda americana, os funcionários se rebelaram e prometeram greve caso a empresa continuasse a servir espinafre com tanta frequência. No lugar do vegetal rico em ferro, os moradores queriam o bom feijão brasileiro, além de peixe e farinha.

Vila dos funcionários de Fordlândia (Fonte da imagem: The Henry Ford/Flickr)

 Praga e mudança de mercado

E apesar de um ou outro momento que indicaram um possível sucesso na empreitada de Ford, o projeto acabou fracassando. Além dos problemas já mencionados, as seringueiras foram afetadas por um fungo que se espalhou rapidamente. Na floresta, as seringueiras existem com mais espaçamento entre elas e, portanto, as doenças não se espalham com essa facilidade. Mas os americanos plantaram as árvores muito próximas uma das outras, de maneira semelhante ao plantio de eucalipto. Além disso, o aparecimento da borracha sintética também atrapalhou os planos da empresa, já que grandes potências começaram a trocar a borracha natural por essa variante. No total, Ford teria gasto cerca de meio bilhão de reais no projeto, que no fim acabou sendo vendido ao governo brasileiro por US$ 250 mil (cerca de R$ 574 mil). Hoje, as instalações sPágina com mais informações fotos: e encontram abandonadas e sofrem saques e desmanches constantes enquanto aguardam o tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Para saber mais acesse os seguintes links:

 

Documentário:

Os detalhes desta história fantástica e do que aconteceu com Fordlândia depois do fracasso fordista são contados no excelente documentário Fordlândia, de Marinho Andrade e Daniel Augusto, que está disponível na íntegra no YouTube:
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